Nesta quarta e última parte da pequena revisão histórica abordo os relógios de sol do século XIX até os dias de hoje. Em que pese estejamos em uma época onde qualquer carrega algum dispositivo que permite ver as horas (relógio, celular, etc.) os relógios de sol continuam evoluindo, e permitem estabelecer a conexão entre diversas áreas do conhecimento científico (astronomia, trigonometria esférica, trigonometria plana, etc.)
Vejamos um pouco do que aconteceu desde o século XIX.
Século XIX
O francês Jean Jacques Sedillot publica em 1854 o Traité des instruments astronomiques árabes, baseado em manuscritos de Al-Marrakushi, datados de 1280, onde são descritos 6 diferentes tipos de relógios de sol portáteis e 13 fixos, entre horizontais, verticais diretos e declinantes, cilíndricos e hemisféricos.
Em maio de 1867, Lloyd Mifflin recebe a primeira patente dos EUA para um gnômon incorporando o formato da curva da analema. Com esta inovação passa a ser possível ler o tempo solar médio diretamente em um relógio de sol equatorial sem necessidade de correções adicionais.
Na mesma época a Europa começou a adotar a Hora Média Local fazendo com que os relógios de sol fossem sendo relegados ao esquecimento. Contudo, até o início do século XX, as estações de estrada de ferro na França ainda faziam uso dos relógios de sol de alta precisão, conhecidos como heliocronômetros, para correção da hora dos relógios mecânicos. O mesmo acontecendo com os relógios controladores dos faróis marítimos em outros países. O advento das comunicações telegráficas, telefônicas e radiofônicas acabou por tornar esta prática desnecessária.
Século XX – XXI
Os relógios de sol passam a ter interesse quase que unicamente acadêmico e matemático. Contudo, o avanço da matemática, a disponibilidade de novos materiais e técnicas, o aumento do número de pessoas interessadas no assunto e, posteriormente, o surgimento do computador faz com que novos e criativos modelos de relógios de sol sejam concebidos.
Em 1922 o matemático alemão Hugo Michnik inventa o relógio de sol bifilar. A novidade deste relógio reside no fato de a sombra não ser mais projetada por um ponteiro polar, mas sim pela sombra formada pela intersecção das sombras de dois fios mantidos a uma distância distinta da mesa do relógio [ref. 1].
Freeman [ref. 2], em 1978, propõe o primeiro relógio de sol que independe da latitude do local. Apesar de apresentar erros que variavam de 1 até 30 minutos ele prova que é possível construir este tipo de dispositivo. Por sua vez, em 1988, De Rijk [ref. 3] propõe um novo relógio de sol independente da latitude do local que tem uma precisão superior ao de Freeman. Contudo, as inovações não pararam por ai. Dezenas de patentes foram concedidas em algumas décadas, como a de Robert Gundlach1, em 1974, sobre um relógio de sol sem sombra, baseado no reflexo da imagem do Sol por uma superfície refletora.
Em 1999, Mario Catamo e Cesare Lucarini inventam o relógio de sol por difração. Este dispositivo não possui um gnômon. O disco que indica as horas consiste de uma rede de difração circular que produz uma linha diametral brilhante que aponta para o Sol quando vista perpendicularmente ao centro do disco, que, normalmente, é feito com um CD.
Por volta da década de 1980 o interesse pelos relógios de sol começa a se renovar. Diversos grupos e sociedades são criados com o propósito de estudá-los e difundi-los. O advento da Internet e do correio eletrônico facilita as comunicações mundiais aproximando os interessados no tema, ajudando assim o resgate desta quase perdida arte. De certa forma inicia-se um retorno às raízes e uma reconexão com os princípios astronômicos de uma época na qual a contagem do tempo se dava de uma forma mais natural. Hoje podemos ver o relógio de sol como um objeto útil não só pelo aspecto cultural, científico, instrutivo, artístico e decorativo, mas também como um instrumento simples para o ensino dos movimentos do sistema solar.
Comentários:
- Patente US 3.815.249 [ref. 4]
- BIFILAR Sundial. Disponível em: <http://www.de-zonnewijzerkring.nl/eng/home-bif-zonw.htm>. Acesso em: maio de 2006.
- FREEMAN, J. G. A latitude-independent sundial. Journal of the Royal Astronomical Society of Canada, v. 72, n. 2, p. 69-80, 1978.
- DE RIJK, J. A. A new latitude-independent sundial. Journal of the Royal Astronomical Society of Canada, v. 83, n. 3, p. 137-144, 1989.
- SUNDIAL patents. Disponível em: <http://www.pacificsites.com/~brooke/SD_Pat2.shtml>. Acesso em: maio de 2005.
Um comentário:
Muito interessante este seu artigo. Valeu pelo trabalho e pelas informações. Obrigado!
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